Quando a repórter Lais Rissato me procurou pedindo indicações de alunas que costuram suas roupas e, trazendo consigo dúvidas sobre como é aprender a costurar, emendamos um longo papo onde falei sobre minha trajetória como professora (e aluna), sobre o mito de “costurar para não gastar dinheiro“- que não existe, convenhamos e também sobre o recorte de classe que precisa ser pensado além da ~moda~ de costurar.
Afinal, as mulheres pobres sempre costuraram para si e suas famílias.
Abaixo, a parte onde participei:
Mulheres descobrem estilo de vida mais afetivo, sustentável e independente.
por Laís Rissato
Patrícia Cardoso trabalha com costura há 15 anos e tem um ateliê em São Paulo, onde dá aulas. Entre seus alunos, ela reúne homens e mulheres em busca de mais autonomia na hora de se vestir. “Trabalho com isso desde 2007 e comecei a dar aulas em 2011. No início, fazia uma costura mais criativa, acessórios, almofadas, nécessaires. Como já tinha estudado um pouco de modelagem, mas ainda não fazia roupas, voltei a estudar tudo de novo, entendendo melhor os tamanhos e as proporções do corpo na hora de criar os tamanhos de calças, blusas e vestidos”, diz.
Desde 2015, Patrícia costura tudo o que veste e praticamente não compra mais em lojas: “De algum jeito, comecei a me conectar com pessoas que também queriam fazer suas próprias peças. A costura vem, muitas vezes, de um lugar de memória afetiva. A avó costurava, a mãe costurava, então, quem quer aprender entende que é um negócio que compõe a vida no todo, porque roupa a gente veste todo dia”.
foto Beatriz Alves
Resgatando e ressignificando a costura
A história da costura sempre passou por mãos femininas. De seu surgimento, no período paleolítico, com agulhas feitas de marfim de mamute e ossos de rena, passando pelo tear manual com lã e algodão, até a Revolução Industrial e o surgimento das máquinas de costura e a produção em larga escala, as mulheres tiveram um papel decisivo nesse fazer. Mas, em tempos modernos e capitalistas, ele foi sendo associado às tarefas domésticas e, muitas vezes, colocado em um lugar de precarização profissional.
“Importante a gente não deixar de falar sobre o recorte de classe, porque as mulheres pobres sempre costuraram, não é algo novo. Minha mãe teve na costura a sua forma de sustento. É uma mulher de origem muito pobre, que cresceu na roça, no sul da Bahia, e veio para São Paulo com pouco mais de 20 anos, num caminhão horroroso.
Enfim, história bem clássica das pessoas que migraram para cá nos anos 1960, 70. E ela conta que as pessoas mais pobres só costuravam. Não compravam roupas. Depois dos anos 1980 é que começaram a aparecer lojas mais acessíveis”, diz Patrícia.
Maria Dias
Que linda você, Pat! Sempre com fala pertinente e real. Fico feliz mesmo de ver seu nome, sua figura, seu trabalho conquistar essa visibilidade. Parabéns, querida. Que outras matérias possam divulgar ainda mais seus mais diversos feitos! Beijo!💞🧵🪡
Patricia Cardoso
Maria DiasObrigada Maria querida ♡
Simone
Segue Patrícia, vc inspira! Beijos desde o outro lado do oceano, Viena- Áustria 🇦🇹
Patricia Cardoso
SimoneUauuu que longe! Bom saber que tenho leitoras aí!
Beijo!
Hellen Ferreira
Me recordo da minha mãe costurando as minhas roupas e de minha irmã. Brinco com tecido, linha e agulha desde criança ou adolescente e sempre gostei desse mundo da criação, acho muito massa criar uma peça. Desde cedo, eu pedia para escolher tecidos nas lojas, mas eu não pedia tecidos caros. Eu encontrava as viscoses com estampas até legais, com quase nada de gramatura e que desbotavam um monte (minha mãe as chama de javanesa). Os cetins mais baratos, mas com uma linda cor. Alguns foram sendo usados nas minhas aventuras na máquina, outros ficaram com minha mãe. Passei 12 anos fora e quando voltei a morar em Aracaju, minha mãe me entregou um pacote com minhas compras. Ela nunca usou os meus tecidos. Talvez por serem meus, talvez por terem qualidade duvidosa…
Patricia Cardoso
Hellen FerreiraAinn eu amei ler seu comentário! E nem sei há quanto tempo não ouvi a palavra “javanesa’, mas ao ler, lembrei rapidamente dos tecidos.
Olha, antes eles eram melhores do que os de hoje, viu! A qualidade dos tecidos caiu tanto..
Beijo, Hellen!
Edna
Parabéns! Me lembrei que já foi entrevistada em outra revista também. ⚘