Há alguns dias completei um mês em SP e UAU, como o tempo passa rápido!
Foi alí atrás quando eu comprei essas passagens ainda na sala da minha casa na Nova Zelândia e parecia tão longe… depois veio a mudança pra Alemanha, a procura de um novo cafofo, a temperatura que foi baixando e por fim cheguei em São Paulo. E rapidamente completou um mês.
Completou um mês desde que eu fui parada na polícia federal americana e fiquei trancafiada na salinha por mais de uma hora pensando: que diabos eu fiz?? E, mesmo sabendo que eu não havia feito nada, aquele passaporte perdido na Alemanha me fez sambar na polícia gringa e sair de lá atordoada.
Mas deu tudo certo e o policial só queria saber se eu era eu mesmo e não havia ninguém usando meu passaporte 🙂
Dentro do avião e passando por algum lugar congelado neste nosso mundo vasto.
Bom, voltar à SP é um prazer e está sendo uma delicia estar aqui, mas algumas coisas me marcaram e eu me pegava pensando nessas re-experiências brasileiras que, quando morava aqui, eram parte do cenário que chamamos vida cotidiana.
1- A desigualdade social no Brasil
Sim, eu sempre soube que a desigualdade social brasileira é extremamente acentuada e isso traz danos praticamente irreparáveis à famílias e gerações. Mas juro que andar pela rua e ver a quantidade de pedintes, pessoas dormindo em papelões pelas praças ou alguém revirando o lixo em busca de comida fez meu coração rasgar-se em looping. Sim, eu SEMPRE vi isso acontecendo pela cidade, mas parece que dessa vez a água bateu mais gelada na bunda, sabe? Não sei se antes eu estava anestesiada e enxergava menos ou se a situação piorou, mas posso afirmar que isso mexeu demais comigo nas primeiras semanas.
Um dia vi um rapaz pedindo dinheiro para comprar ração pros cachorros. Peguei um punhado de moedas e dei pra ele. O tempo de ele contar foi o mesmo que eu usei pra dar uns passos adiante e em seguida ele começou a gritar: obrigada moça, hoje comeremos eu e eles! E não era nem cinco reais.
Mais pra frente vi u senhor idoso com um chapéu de papai noel pedindo dinheiro. Uma pobreza sem fim revestido por um símbolo forte de uma época do ano tão capitalista. Foi o suficiente pra eu descer a Consolação chorando sentada num ônibus vazio.
2- A morada
Há sete anos saí da casa onde nasci para morar com Raphael, num apto velhaco em Pinheiros e nunca mais voltei. Depois vieram nosso próprio apto, o apto na NZ, o endereço na Alemanha e nisso fui me acostumando com minha própria casa e à rotina comum que se formou em torno da vida que levamos.
Mas voltar pra casa da mãe é revisitar cheiros do passado, comida farta o tempo todo, velhos barulhos e pepinos de família. É encontrar colegas de escola pelas ruas do bairro, tomar um açaí com as amigas de infância e perceber o quanto a vida girou em 7 anos. É revisitar um passado que eu achava que não viveria mais e de repente aqui estou. É doido e eu não sei explicar nem falar ainda o saldo disso tudo, mas é bom. E as vezes esquisito porque é tipo vestir um jeans antigo que ainda cabe, mas parece que está fora de moda. Mas cabe.
em frente à casa de minha mãe em mais um dia paulistano de chuva e calor.
3- Amor de mãe
Minha mãe sempre foi uma pessoa doce e fácil de conviver. A nossa relação sempre foi boa e amorosa, mas é doido ver o amor dela em todas as coisas que ela faz de uma forma tão forte. Percebo isso na alegria que ela me serve um teco de panetone no meio da noite em que estamos costurando ou da forma atenta que ela ouve quando eu ensino algum truque de costura. Na forma que ela segura meu braço ou quando faz um carinho na minha orelha.Tudo é amoroso, cuidadoso e transborda nas ações dela. É muito bom estar aqui e poder viver isso, é realmente um privilégio
As couves que minha mãe plantou e colhe todas as manhãs pra eu fazer suco verde. | Nós no avião indo pra Bahia e em Salvador, num pôr do sol maravilhoso.
4- Gatas
Isso é doido e não sei se vou saber colocar em frases, o que sinto. Acho que todo mundo sabe que deixei minhas gatas no Brasil quando mudei para a NZ porque a NZ não aceita bichos de vários países e enfim, aqui elas ficaram em casas confortáveis e cheias de amor. Apesar de eu imaginar que a adaptação não tenha sido fácil pra nenhuma delas, eu também sofri muito e chorei diversas vezes em território neozelandês.
Não que tenha sido o único caminho que me trouxe à essa reflexão, mas os textos budistas sobre apego me ensinaram muitas coisas das quais eu carrego comigo. E talvez essa reflexão me tenha trazido ao ponto em que estou hoje: não tenho gatas, elas pertencem à si mesma (e à sua felicidade e bem estar) e não mais ao meu apego.
Se eu queria estar com elas agora? Sim, certeza
Se eu queria poder levá-las comigo? Sim, certeza.
Mas quem quer isso, eu ou elas? É justo eu fazê-las passar por um processo chato e um vôo longo de 12 horas por vontade minha? É justo eu tirá-las de lares amorosos, espaços conhecidos e rotinas estabelecidas porque EU quero? Não, não é. Então o melhor para elas é que elas estejam bem e eu que lide com isso. E é nesse ponto que eu penso que elas pertecem à si.
na foto: Molly, a cachorra dos meus sogros, Lola, a gata da minha mãe e o gato lindo de Cassiana.
5- Comércio popular
Na NZ a Spotlight era uma delícia.
Conhecer a feira de tecidos (em breve video no Youtube) na Alemanha foi um barato. Mas gente, o Brás.. o Brás e suas mil maravilhas, lojinhas, variedade absurda de materiais, preços incríveis.. que tesão!
Que delicia ir lá e olhar cada pedacinho daquele bairro. Eu confesso que acabei indo quase que semanalmente lá porque era caminho pra tudo e eu sempre tinha algo à comprar alí ou aulas pra dar (dei duas “aulas de campo” pelas ruas do Bras hahahah)
Outra coisa deliciosa: ir à feira semanalmente (mesmo eu detestando os feirantes gritando mas ok, é aceitável) e ver tanta fruta, legume e verdura com preço bom e variedade incrível. Que prazer comer um pastel de beringela com queijo e tomar um caldo de cana com limão. Sério, nosso comercio popular é amor.
Bom, foram esses os 5 pontos que mais marcaram meu primeiro mês aqui. Pode parecer bobagem corriqueira para alguns, mas voltar a viver certas coisas acabam marcando a viagem mesmo. Agora estou na Bahia, com muitas coisas à digerir pela vivência na casa da minha tia. Mas depois escreverei sobre isso.desses dias aqui com ela, mas isso é assunto pra outro post. Eu volto 🙂
Com amor,
Pat
Daniela Alves
É Patrícia, quando você começou a descrever a situação de pobreza que encontrou aqui, logo percebi que você estava falando da região da Paulista/Consolação. E, infelizmente, não é só uma sensação não. É real. Fiquei fora daquela área por quase um ano (licença maternidade), mas quando voltei, também me surpreendi com essa situação e também já chorei. A costura me trás muitas alegrias, simplesmente porque é um prazer e que bom que a cada dia, a cada costura ganhamos experiência e acabamos por ganhar algum dinheiro com isso. Bom, falei demais, mas fico feliz que você realize seus sonhos fazendo o que ama =)
Patricia
Daniela Alvesô Daniela, obrigada pelo carinho <3
Pois é, achei a cidade bem abandonada.. é triste ver a situação das pessoas, triste demais..
BEijo!
Kelen Felix Monteiro
Olá Patricia! Parabéns pelo blog, é muito agradável.
Me inscrevi no seu canal, vendo aos poucos seus trabalhos, dicas…
me identifiquei muito com você, tbm sou costureira, e atualmente estou vivendo a experiência de morar fora do Brasil, e tbm tinhas gatas que deixei pra trás 🙁
Mais tudo é valido nessa vida, basta sabermos lidar.
Sucesso, bençãos e paz em sua caminhada! 🙂 bjos
Patricia
Oi, encontrei seu blog na minha busca por lojas de tecidos e tecidos de qualidade para fazer calças.
Você conhece alguma loja com bons tecidos para calças, pois na 25 de março só achei brins e lãs?
Patricia
PatriciaPatricia, mas qual tipo de calça vc quer fazer?
social, legging, esporte, pijama…
Pat