Graviola, Umbu, Embu, a Jaca no pé, o Cacau na roça, as crianças com pés descalços na rua.
O céu imenso, as milhares de estrelas, o sorriso tímido, os carros envelhecidos e o cheiro de roça. O Sul da Bahia é cheio de imagens tão lindas e, com certeza, cheio de lembranças.
Lá o dia amanhece cedo e o sol não perdoa. As ruas cheiram a comida fresca, a feira é farta (e baratíssima) e o suco é sempre natural. O cacau fez história: arrancou o couro de muitos e trouxe rios de dinheiro para alguns.
Ele ainda permeia pelos caminhos: cresce abaixo das bananeiras, colore as estradas de verde e rosa e ainda traz o sustento de muitos. Foi ele quem movimentou toda a sociedade baiana nos séculos XIX e XX e foi nele que a história da minha família começou. Na roça, na fazendas de pisar cacau.
Essa não foi minha primeira vez nestas cidades mas, depois de adulta e com câmera na mão, sim. Minha mãe, que é andarilha e viajadora estava doida para rever os irmãos e lá fomos nós rumo ao aeroporto de Ilhéus. De lá, pegamos um ~taxi numa viagem lhouca de 40 minutos que contei aqui.
A primeira parada foi a minúscula cidade de Barro Preto.
Pensem num lugar pequeno, super pequeno. Posso dizer que nessa cidadezinha seis ruas se cruzam com outras seis ruas e acabou. Como as casas são todas baixinhas, é fácil ver os morros e as matas do entorno.
Tudo era roça de cacau, tudo.
Em Barro Preto vive minha tia Maria com seu marido. A casa dela faz fundos com o cemitério da cidade (!) e as árvores despejam dezenas de frutas no seu chão de terra batida.
Foi lá onde eu tive um curso de “brega”: meu tio postiço me mostrou orgulhoso sua coleção de discos e cds com fotos de cantores que nunca antes vi.
Ele fazia um gesto bonito: colocava a música para tocar e sentava numa cadeira velha, assim ficava observando o fim da tarde acontecer cantando baixinho cada pedaço das frases de amor.
Barro Preto tem um dos céus mais bonitos que vi nos últimos anos. É imenso e profundo, com muitas cores difusas entre si. Durante a noite, as estrelas fazem aquele espetáculo brilhando aqui e alí numa sincronia bonita demais.
Depois de alguns dias, pegamos a estrada rumo a Ubatã.
Ubatã é uma cidade maior, mas isso não significa que ela seja muito desenvolvida: as imensas ruas de casas baixas ainda mantém a estética e o modo de vida do século passado. O acesso as coisas é lento e claro, o tempo passa devagar. Lá vi pessoas lavando roupas nos rios e carregando coisas na cabeça, além de bichos soltos por todo o canto 🙂
O Rio de Contas atravessa cerca de 16 cidades até desaguar no oceano atlântico e é uma das estrelas da cidade, basta atravessar algumas ruas e logo se vê seu movimento vindo da nascente na Serra da Tromba e indo até Itacaré.
Ele faz parte de toda a infância da minha mãe e nele aprendeu a nadar como bom peixe que é. Infelizmente não estava em época de cheia, por isso, a pouca quantidade de água que desce lentamente e segue seu curso.
Nesta cidade moram duas tias minhas, além de primos da minha mãe.
Ela cresceu por lá entre fazendas de cacau que meu avô trabalhava e, dentre as ruas, me contou muitas histórias, incluindo seu casamento aos 20 e poucos anos na Igreja Nossa Senhora da Conceição.
Andamos parte da cidade procurando a casa de uma mulher que ainda faz “farinha fina artesanal”, além de irmos em todas as feiras que podíamos para pegar frutas frescas que nunca se vê por aqui.
São Jorge dos Ilhéus, conhecida por muitos, é uma das maiores cidades do sul da Bahia e também terra de Gabriela cravo e canela. Ilhéus cheira a chocolate e Jorge Amado nas mesmas proporções: é uma cidade grande, vistosa e modernizada, recheada de artesanato. É também a porta de entrada para o sul da Bahia, assim como para o descanso. Possui uma brisa leve e um mar lindo de Deus.
A Catedral de São Sebastião é um dos cartões postais da cidade. Meu tio Francisco foi padre por muitos durante anos e eu lembro de visitar essa igreja quando pequena, de andar pelos corredores dos andares superiores da Catedral e achar que tudo era grande e silencioso demais.
Terminamos essa viagem passeando pelas praias vazias antes do nosso vôo de volta pra SP.
Ilhéus e seu cheiro de chocolate com sucos de frutas que nunca vi cujos sabores explodiam na boca deixaram saudade. As praias são tão longas que a faixa de areia vai se emendando entre si e o mar segue seu curso de sol.
Deixou saudade.
Nas fotos, um pouco do que vivemos.
Beijo,
Pat e D. Maria
Eliane
São Tomé e Príncipe, na África, é irmão de Ilhéus… uma belezura!! Inclusive na memória de qd tudo era roça de cacau
Cristine Akemi
Pat querida,
É interessante como essa coisa de origens mexe com a gente, não?
Adorei conhecer um pouco mais da sua por meio das fotos e das suas palavras bonitas.
E gostei também da explicação sobre o porquê de as casas serem coloridas que sua amiga postou aqui em cima, rs
Beijos,
Cris
Zeza Maria
Pat cacaueira,
Pelas andanças pela minha-nossa terra, seja passeando ou a trabalho, o colorido das casinhas sempre me chamava atenção. A explicação, segundo pessoas diferentes em cidades diferentes foi a mesma: para que, ao voltarem das farras, os homens da cidade não errassem de casa! hahahaha 🙂 Nossa Bahia é linda e ficou ainda mais através dos olhos e palavras coloridas. Beijo, lindona!